A história de uma entrevista-homenagem

Por Georgia Nicolau

Nos termos e classificações internas que naturalmente surgem entre as pessoas que participam por tanto tempo de um projeto como o Produção Cultural no Brasil, algumas das entrevistas eram chamadas de “entrevistas-homenagem”. Usávamos o termo para nos referir àqueles entrevistados cuja trajetória falava por si só, cuja história e contribuição para o Brasil e sua cultura eram intocáveis, inclassificáveis, indubitáveis. Thomaz Farkas era obviamente um deles.

Thomaz Farkas no estúdo do #prodculturalbr

Quando finalmente consegui o contato com a sra. Marly Mariano, esposa do Thomaz, não pude conter minha felicidade: teríamos um artista da fotografia e do documentário brasileiro em nosso estúdio. Ela escolheu um domingo, 11 da manhã, para que ele viesse sem trânsito até a Vila Mariana, local onde gravamos as entrevistas. E então no dia 30 de maio, às 11, Thomaz chegou, acompanhado de sua enfermeira. Estavam todos meio tensos, e ao mesmo tempo emocionados pela presença dele. Ao longo da divertida conversa, uma das frases mais ouvidas por nós foi: “Ah, você me faz cada pergunta!”.

Na cerca de uma hora em que ele permaneceu lá, sentado na cadeira, olhando para seus entrevistados e equipe com curiosidade, ele respondeu todas as perguntas que lembrava, contou sua motivação em fazer a caravana Farkas: “Eu tinha uma preocupação política. Nessa época, todo mundo tinha uma preocupação política na vida. Eu era estudante na Politécnica. Os filmes tinham viés político, tinha um viés de estudar o que acontecia nos lugares, como as coisas aconteciam. O conhecimento do Brasil era muito interessante. Esse era o princípio da coisa: como é o Brasil do Norte, como é o Brasil do Sul, como posso ilustrar isso?”

E depois sua satisfação em ver seu projeto de vida acontecer: “Tentei botar toda a minha experiência, toda a minha vida, dinheiro e tempo para fazer esses filmes. Então, por isso que resultaram 20, 30 filmes, em vez de os dois ou três que a gente pretendia fazer. Foi uma satisfação pessoal muito grande, que é o que eu procurava.”

No fim, quando a entrevista terminou, Farkas ainda queria mais, se disse à disposição para as perguntas que quiséssemos. Questionamos se seria possível tirar algumas fotos e planos-sequência dele, que, calmamente, com seus olhos brilhantes, respondeu: “Fique à vontade. Não tenho pressa, não tenho…”

Nossas superfotógrafas Gabriela Barreto e Alicia Peres explicaram então que estavam usando a câmera Canon EOS 5D mark II, que faz tanto foto quanto vídeo com muita qualidade. Ao que ele respondeu: “Então não vai errar o foco, hein!”, comentário procedido por gargalhadas no estúdio.

Esse texto é apenas para resgatar um dia muito especial para a equipe do projeto, e expressar nossa felicidade e satisfação de termos ouvido, ainda que por apenas uma hora, as histórias e causos deste incrível artista brasileiro. Talvez tenha sido sua última entrevista. Obrigada, Thomaz!

Assista ao vídeo e leia entrevista na íntegra.

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