Sérgio de Carvalho

Diretor e dramaturgo da Cia do Latão

“Sem essa disposição de ir contra você não faz nada de interessante, porque, de fato, os espaços já estão muito condicionados. É isto: se você faz arte é porque gosta de um trabalho torto, de um trabalho do avesso.”

Entrevista gravada no dia 30 de abril de 2010 no estúdio Cine & Vídeo, em São Paulo.

Sérgio de Carvalho é diretor, dramaturgo e crítico teatral. Fundou com outros artistas, em 1997, a Cia do Latão, com montagens já históricas do teatro brasileiro, como “Santa Joana dos Matadouros” (1998), “A Comédia do Trabalho” (2000) e “Círculo de Giz Caucasiano” (2006). O Latão se notabilizou como o principal grupo brasileiro encenador dos textos do dramaturgo alemão Bertold Brecht, e de seu teatro épico-dialético. Antes do Latão, Sérgio assinou a dramaturgia de “Paraíso Perdido”, o primeiro trabalho de Antônio Araújo à frente do Teatro da Vertigem. Formado em jornalismo, Sérgio estuda teoria literária no mestrado na ECA/USP, além de trabalhar como professor de teoria do teatro e literatura dramática na Universidade Estadual de Campinas.

Algumas produções de que participou

"A Comédia do Trabalho" (2000)"O Círculo de Giz Caucasiano" (2006)"Ópera dos Vivos - Estudo Teatral em 4 Atos" (2010)
Imagens dos espetáculos “A Comédia do Trabalho” (2000), “O Círculo de Giz Caucasiano” (2006) e “Ópera dos Vivos – Estudo Teatral em 4 Atos” (2010), todos da Cia do Latão

Trechos da entrevista

“O teatro é uma arte em que você se transforma em outra coisa, é uma arte de imaginação, o público visualiza neste espaço um outro mundo. O ator entra em cena, no ‘Hamlet’, e diz assim ‘Quem está aí?’, aí o outro fala ‘Diga você!’. Eles estão no escuro. O espectador começa a ver aquilo e visualiza uma noite estrelada num castelo em Elsinore. Você começa a gostar de futebol quando você entende um pouco das regras. No teatro é a mesma coisa. Você precisa ver um pouco das regras do funcionamento dele, que no fundo são as regras do funcionamento social. O teatro ensina muito sobre a vida em geral.”

“O sucesso de um refrigerante depende dele atingir quantitativamente o maior número de pessoas. A qualidade dele não é se ele é bom ou mau, mas sim se ele for mais vendido, tiver mais público. Arte é diferente. A qualidade do Beethoven não muda se ele for mais ou menos vendido. A qualidade de um grande escritor não depende dele chegar em mais gente, depende de uma coisa que está ali impressa na obra. Então, é neste sentido. Eu acho que o produtor cultural tem que se libertar desta lógica mercantil.”

Palavras mais faladas na entrevista

Para que se tenha uma ideia do que foi dito e destacado pelo entrevistado, utilizamos um sistema de visualização chamado “Nuvem de Palavras”. Quanto mais vezes uma palavra é dita, maior ela aparece.

Palavras mais faladas

O que já disseram sobre ele

“Sérgio Carvalho optou por abrir mão das rígidas máscaras sugeridas no texto [‘O Círculo de Giz Caucasiano’]. Como tem um elenco de onze atores muito afiados – Rogério Bandeira, Luís Marmora, Rodrigo Bolzan estão entre os que vieram de outras companhias e se integraram perfeitamente à linguagem do Latão -, os personagens ganharam em humanidade sem prejuízo da idéias que se pretende demonstrar. A montagem consegue ser tão cristalina quanto o texto ao demonstrar o funcionamento do jogo das forças políticas e a ação desse jogo sobre os indivíduos.”
Cítica no jornal O Estado de S. Paulo (2007)
http://www.estadao.com.br/arquivo/arteelazer/2007/not20070126p1693.htm

“As risadas tomaram conta do teatro, como nunca pensei que poderia ocorrer em uma obra onde é evidenciada a luta de classes [‘A Comédia do Trabalho’]. Assim como a maioria dos espetáculos do Festival Ruínas Circulares, que prezou por espetáculos engajados, muitas reflexões eram propostas por meio de deboche e metáforas, mas aqui parecia que tudo estava formatado de forma a induzir o público a um ponto de vista. Com interpretações nem um pouco contidas, as piadas tendiam para a ridicularização dos arquétipos dos “todos poderosos do sistema”, e a fragilização “dos coitadinhos explorados”, separando os homens entre bons e maus. Outros gracejos me levaram a crer (e aqui estou soltando uma opinião extremamente pessoal) que serviam apenas para terem um apelo popular maior, e não deixar todo o discurso épico tão chato, fazendo piadas fáceis, homofóbicas, cuspindo palavrões e usando jargões comuns a programas televisivos humorísticos de sábado à noite.”
Emiliano Freitas, crítico da revista Bacante (2009)
http://www.bacante.com.br/critica/a-comedia-do-trabalho-2/

“Temos acompanhado a trajetória artística e cultural destes corajosos meninos e meninas da Companhia do Latão. Vemos neles, além do profissionalismo com que encaram sua missão, aquela generosa dedicação dos que se entregam de corpo e alma e conseguem colocar a cultura e a arte a serviço da conscientização da nossa sociedade. Nosso país está precisando cada vez mais de Companhias do Latão do que as companhias a quem nosso governo entregou nossa economia.”
João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), na Enciclopédia Itaú Cultural de Teatro
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=personalidades_biografia&cd_verbete=281

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