Nos mais de 600 minutos de entrevistas com quem faz, pensa e multiplica a cultura brasileira, surgiram depoimentos com os mais diversos pontos de vistas sobre o que é ser um produtor cultural no Brasil. Produtor de recurso, de talento, um autodidata, um gestor, um artista, um agitador…
Resolvemos compilar algumas destas visões distintas, para você ter uma noção sobre a quantas anda a função no Brasil.
Produtor de recursos x produtor de talento
“Tem vários tipos de produtores culturais. O produtor cultural que é a pessoa que vai buscar fundos para investir em um determinado artista ou num grupo de artistas, haja visto a Lei Rouanet, por exemplo. E tem outro tipo de produtor cultural. Da música é a pessoa que se encarrega de ser o companheiro do artista e que ajuda o artista a conceituar sua música. Este é um produtor cultural também. Este não vai atrás do dinheiro, este vai atrás do talento.”
André Midani, Executivo da indústria fonográfica (íntegra da entrevista)
Produtor Gestor
“O que eu pude depreender desta minha passagem pela produção cultural do país, essa área que eu chamo de área cultural não industrial (as companhias de teatro, de dança, mesmo os museus) é que essas são áreas em que há muita competência artística e baixa competência de gestão, de administração.(…) Hoje, felizmente, você tem um processo de profissionalização não artística ocorrendo na área cultural brasileira. Isto é importantíssimo porque o gestor cultural tem uma capacidade, um bom gestor cultural tem uma capacidade de ampliar a efetividade da ação cultural.”
Yakoff Sarcovas, Presidente das empresas Articultura e Significa (íntegra da entrevista)
Produtor aprendiz
“Todo o trabalho é feito com a grande parcela, com grupo de jovens administrando, gerindo, assumindo contatos e a recepção das pessoas que chegam, facilitação entre as pessoas, o trabalho técnico nos palcos. Então os jovens estão juntos com os profissionais o tempo todo e em posições-chave (…) “Olha, eles não sabiam como resolver, mas eram vários tentando ajudar”. De qualquer forma, eu me senti tão cuidado que eu nem me importava mais se o problema ia ser resolvido.”
Ruy Cezar, Fundador da Casa Via Magia (íntegra da entrevista)
Produtor executivo
“Olha, o produtor cultural, por exemplo, pode ser uma moça que foi muito bem criada pela família Klabin, que vai para a Europa, assiste peça de teatro, assiste um monte de coisas, vem pra cá, é uma pessoa que não tem grandes ocupações. Ela pega um algum amigo que também não tem ocupação. Eles conseguem uma lei de incentivo que o pai do amigo dela dá porque a empresa é outra. E ela faz produção cultural, entendeu?”
Toninho Mendes, Editor e criador da Circo Editorial (íntegra da entrevista)
Produtor agitador
“Às vezes falam: ‘O Marcelino é um agitador cultural’. Eu sou um ‘agitado cultural’, não me contenho. Eu faço as coisas porque eu quero interferir, como diz o Glauco Mattoso, eu quero interferir na geografia das coisas. ‘A vida’, já dizia o poeta Chacal, ‘a vida é muito curta para ser pequena’, então vá, se entregue às coisas. Nesse sentido, eu sou um teimoso, eu faço porque eu sou muito teimoso, eu faço porque me dá uma agonia, porque eu quero tirar a literatura deste casulo, tornar a literatura mais viva, mais pulsante, estar participando mais da vida das pessoas, é isso (risos).”
Marcelino Freire (foto), escritor e agitador cultural (íntegra da entrevista)
Produtor meio
“O produtor cultural é um agente, é um eixo, talvez, de juntar possibilidades de que como eu me entendo. Eu vejo que eu faço parte de uma cadeia, que é um cadeia da economia criativa, da indústria criativa. Do que depende esta cadeia? Da criatividade. Normalmente o criativo é o cara mais emocional, então faz parte do trabalho do produtor cultural reconhecer essa criatividade, trabalhar a criatividade, embalar a criatividade e apresentar essa criatividade para o público. Quem é esse público? É o patrocinador, é o agente público, é o público em geral, é a imprensa, é todo mundo. Então eu acho que o produtor cultural, a profissão produtor cultural, é essa profissão que fica no meio, entre a criatividade e o consumo, e trabalha a cadeia. É isso.
“Leandro Knopfholz, Diretor do Festival de Teatro de Curitiba (íntegra da entrevista)
Produtor social
“Eu acho que tem que ter um equilíbrio, você não pode ser só um operário, não pode ser só um cara que está ali pela arte porque no fim das contas não é só arte. Eu acho que o papel, uma vez que você está pensando na música como profissão, o resultado final, é muito além disso. Tem um reconhecimento maior e uma responsabilidade maior também, que não se limita a só fazer a música. Tem também uma questão social, econômica, que a gente precisa dar adendo cultural.”
Fabrício Ofuji (foto), Produtor da banda Móveis Coloniais de Acaju (íntegra da entrevista)
Produtor autodidata
“O produtor cultural é uma pessoa que é dedicada, que já nasceu com isso. Eu acredito que a gente nasce – eu, desde menino, a música mexe comigo. Eu estou com filho pequeno agora. É impressionante, eu estou no computador e ele está envolvido. E o produtor vem se formando. De tanto gostar de música desde de menino, não teve outro jeito, olha onde é que eu estou!”
Aroldo Pedrosa, Compositor, escritor e agitador cultural (íntegra da entrevista)
Produtor empresário
“Eu acho que o produtor cultural tem que ficar atento, com um olho no peixe e outro no comprador, tem que saber otimizar a coisa que ele quer fazer, que ele acredita que é uma coisa poderosa para o desenvolvimento da humanidade, seja do ponto de vista estritamente de linguagem artística, seja do ponto de vista de educação artística. E que as coisas possam se juntar com a possibilidade de proporcionar isso, ou seja: quem é que vai comprar? Quem é que vai bancar? Isto eu acho que é o produtor cultural atualmente.”
Chacal (foto), Músico e poeta (íntegra da entrevista)
Produtor por acaso (ou por necessidade?)
“E o produtor cultural é esse, é aquele que acredita no artista, faz a produção cultural e vive dessa produção cultural. Porque na realidade eu não me sinto um produtor cultural, eu me tornei um produtor cultural por necessidade.“
Rui do Carmo, Poeta, fundador do Movimento Literário Extremo Norte (íntegra da entrevista)
Como percebemos, as definições são muitas. Assim como as atribuições de um produtor cultural. E aí? O que é ser um produtor cultural?