por Fábio Maleronka Ferron
Passaram-se alguns meses desde o fim do trabalho no estúdio da Vila Mariana, alugado para as gravações do Produção Cultural no Brasil. As vozes das 100 pessoas ficaram lá. Produtores, gestores, técnicos, artistas. A pergunta que orientou o nosso trabalho no período que nos enfurnamos era: o que é, afinal, trabalhar com cultura?
O projeto nos apresenta várias respostas. Em geral, pode-se dizer, as entrevistas apontam para uma noção bem distante de cultura como algo fútil. Portanto, alertamos que esse material não auxiliará os personal stylists de plantão, muito menos alimentará guias de boas maneiras.
O que veremos então, ao assistir aos vídeos e ao ler os livros?
Vamos lá:
Veremos gestores tratarem da tarefa de formular e executar políticas culturais públicas e privadas. O retrato de uma área que por um lado produziu nossa imagem coletiva e, por outro, tenta se institucionalizar.
Veremos empreendedores grandes e pequenos, ora parecendo uma trupe de circo antigo tentando sobreviver, ora gerenciando grandes negócios. Muitas vezes, sem lupa, será possível observar a estrutura mutante das grandes indústrias nas últimas décadas.
Veremos criadores em ação. Estéticas que montam linhagens e estéticas que rompem com elas.
Veremos profissões começando e corporações de ofício, delicadas e artesanais.
Veremos novos movimentos políticos aliados à tecnologia e à sociedade em rede.
Veremos opiniões sobre o papel das Universidades, sobre a formação de técnicos da área, questionamentos sobre se os festivais têm ou não alma.
Veremos muita gente lembrar das dificuldades de sobrevivência de pessoas e processos culturais.
Veremos gente que trabalha duro para realizar uma ideia, uma abstração. Narrativas sobre processos criativos. Apostas e especulações sobre o país de alguns anos a frente. Revelações sobre a história da política cultural do Brasil.
Nossa equipe está cansada e orgulhosa. Foi muito bom ver a produção cultural brasileira pelos seus bastidores, oficinas e corredores. Nos parece que olhar por por esse lado, o da cultura que em geral não aparece nos cadernos de programação dos jornais, nos fez produzir um material inédito.
O momento que vivemos é de enorme ebulição e mudanças nos mercados não só no Brasil, como em vários países, em especial Índia e China. Há muito por discutir nesse campo.
As entrevistas feitas para o Produção Cultural no Brasil são só um começo.
A rede que está nascendo, neste www.producaocultural.org.br, tem o objetivo de valorizar a experiência coletiva e o ponto de encontro dos produtores criativos. Isso porque o slogan, o mote original, deste projeto é a frase “dentro de cada invenção existe outra”.
Agora em setembro quebraremos uma espumante no casco do site, que começará a navegar. Considerando a repercussão inicial do trabalho, em sua fase beta, já podemos comemorar com alaridos e muita alegria os resultados alcançados.
Por fim, vale compartilhar outras duas questões que têm me perseguido desde que iniciamos esse projeto: qual é o serviço que a imaginação pode prestar ao País mesmo? Para que servem os inventores, afinal?